domingo, 3 de maio de 2015

França

A França é conhecida pela riqueza de sua história, vinhos, monumentos e natureza e também pelo mau humor de seus habitantes. Desde a primeira vez que estivemos lá, não conseguimos entender bem o porquê dessa fama de mau humor, já que em 99% das vezes somos bem ou muito bem atendidos. Está certo que hoje arranhamos um pouco de francês mas, mesmo quando só sabíamos "bonjour" já tivemos uma boa recepção. Quando não dá para explicar o que queremos em francês, partimos para o inglês, mas aí a porta já está aberta. E quando dizemos que somos brasileiros, parece que a simpatia só aumenta.

Desde a primeira viagem, pessoas pararam para perguntar se precisávamos de ajuda, nos levaram para ver o ponto principal do lugar turístico, correram atrás da gente quando viram que entendemos o caminho errado.

Mas, se esta viagem mais recente teve uma característica, foi a de sermos ainda mais bem recebidos, com atendentes fazendo muito mais que sua obrigação e com pessoas na rua sendo solícitas e gentis a ponto de ficarmos surpresos.

Em Strasbourg, por exemplo, a recepcionista do hotel nos orientou qual a melhor maneira a usar um desconto e o gerente de um restaurante na Petite France deixou seu trabalho, saiu para a rua e nos levou ao melhor caminho de volta para o hotel.


Na nossa aventura de bicicleta a Riquewihr, desde a saída de Colmar, perguntamos o caminho a dezenas de pessoas e todas nos ajudaram, sempre com um sorriso. O máximo foi um funcionário de uma empresa que, achando que o caminho era meio complicado, voltou para seu carro, pegou papel e caneta e nos desenhou um mapa, que foi o que nos levou ao lugar certo sem dúvidas. No caminho de volta a Colmar, parados em um dos muitos cruzamentos do caminho, olhando para o mapa, fomos ajudados por dois senhores que estavam treinando com suas bicicletas profissionais e pararam sem a gente pedir para nos mostrar o caminho.


Em Bordeaux, quando quisemos ir de tram para a estação de trem, um rapaz nos indicou onde e como comprar os bilhetes e ainda se certificou que entrávamos no tram para a direção certa. Tínhamos que fazer baldeação nos trams mas, quando paramos no ponto da baldeação, resolvemos dar uma volta para conhecer as ruas medievais em volta. Estávamos tirando muitas fotos e olhando para o mapa e um senhor de idade parou para perguntar o que estávamos procurando, se ele poderia nos ajudar.


Agradecemos e explicamos que estávamos apenas apreciando. Minutos depois, outro senhor nos ofereceu ajuda também.



Em Saint-Emilion, o máximo da gentileza. As pessoas reduziam a velocidade ou mesmo paravam seus carros para que pudéssemos tirar as melhores fotos! Quando aconteceu a primeira vez, achamos que era só coincidência, mas aconteceu muitas vezes. Até tomamos mais cuidado para preparar as fotos.


Em Paris, resolvemos fazer o cartão Navigo, para não ter que ficar comprando bilhetes de metrô toda hora e ter que tomar cuidado em guardar o bilhete durante todo o trajeto. Se a fiscalização te pega no metrô sem o bilhete é multa na certa e muitos turistas caem nessa. Vimos uns britânicos dizendo que tinham jogado o bilhete no lixo. Enfim, fomos perguntar como fazer o tal Navigo. A funcionária nos disse que era simples, mas que precisaríamos colocar uma foto no cartão ou estaríamos também sujeitos a multa. Então decidimos primeiro providenciar a foto e perguntamos onde poderíamos fazer isso. Ela nos sugeriu tirar uma xerox do passaporte e recortar. Logo retornamos com as cópias e era a mesma funcionária que estava lá. Eu pensei que ela ia mandar a gente se virar para cortar e colar as fotos depois, mas, sem a gente pedir, ela sacou uma tesoura e, além de recortar e colar as fotos, picou em pedaços mínimos o restante da cópia do passaporte, jogou em uma lixeira cheia de lixo e sacudiu para misturar bem, dizendo que assim não teria perigo de alguém pegar nossos dados para alguma coisa. Entre mímicas, risadas, histórias de que tinha sido cabeleireira por 20 anos e tinha experiência com tesouras, ainda afirmou que não importa se somos franceses ou brasileiros, o que importa é que somos todos humanos.


Em Paris também, encontramos o caminho para o Museu Marmottan graças à ajuda de um rapaz que passeava com sua filha. Detalhe: eu perguntei o caminho, mas não para ele, mas para uma outra moça com um carrinho de bebê, que nos disse que não conhecia o local. Ele ouviu e nos guiou até próximo ao museu.


Ainda em Paris, os funcionários do mercadinho e do restaurante próximos ao apartamento onde ficamos pela segunda vez, nos reconheceram e trataram como velhos conhecidos, com sorrisões que não caracterizam alguém de mau humor... Para fechar a viagem, na chegada ao aeroporto, estávamos inseguros com a maneira como tínhamos embalado alguns produtos e a funcionária da Air France foi lá dentro buscar plásticos e fita adesiva para melhorarmos a embalagem. A gentileza dos comissários de bordo, começando pela chefe de cabine, nem é preciso comentar, tornou a viagem de volta muito mais agradável.


Isso só para falar em quem nos ajudou... Muita gente queria só conversar com brasileiros, como o funcionário de uma loja, que se esqueceu de nos vender os produtos e ficou falando de Ronaldinho, futebol, calor, etc, a dona da loja que alugava bicicletas em Colmar, que queria nos contar tudo sobre a região, embora o meu francês não acompanhasse a velocidade da fala dela, os músicos na praça de Colmar que tocaram Tom Jobim quando souberam que éramos brasileiros...


Mas, uma coisa é certa, um bonjour acompanhado de um sorriso faz milagres. Entramos em uma loja em Montmartre e eu vi o gerente e o funcionário com cara de poucos amigos. Não me intimidei, olhei bem para eles e falei bonjour bem alto e claro. Foi incrível ver os sorrisos aparecerem imediatamente e o atendimento gentil começar.

Paris

Deixamos Paris por último, vindo de Bordeaux pra cá de trem. Compramos as passagens com bastante antecedência para aproveitar as ofertas. Desta vez, o nosso desafio era visitar lugares que não conhecíamos, portanto, nada de visitar o Louvre ou Museu d'Orsay, subir na Torre, ir à Notre Dame, etc.

Chegamos em Paris no sábado à tarde e a Alexia estava nos esperando com a chave do apto. Tudo certo, deixamos as malas e fomos até a Place du Tertre. Depois resolvemos pegar o metrô e passear um pouco. Muito cansados, voltamos, compramos uma pizza e um vinho e fim do dia.


No domingo, muita coisa estava fechada e o dia estava nublado. Resolvemos conhecer o Museu Carnavalet, o museu da história de Paris. Mas antes, fomos almoçar no nosso restaurante preferido, o Baribal, que fica em Montparnasse. A chuva nos pegou no meio do caminho. O guarda-chuva quebrou, a capa de chuva não aguentou, enfim, aconteceu de tudo, mas chegamos ao restaurante. Como sempre, o atendimento foi caloroso e a comida estava ótima. Um bom vinho e esquecemos da vida lá. Saímos de lá e, desta vez, de metrô, fomos ao Museu.


Foi meio difícil de encontrar, mas chegamos lá. Uma fila enorme para ver a exposição sobre Napoleão Bonaparte em Paris, mas o guarda nos perguntou se queríamos visitar o acervo e, como não tinha fila, foi para lá que fomos. O acervo é bem interessante, com vários "letreiros" de época, de restaurantes, chaveiros, farmacêuticos e muitas obras representativas da história de Paris, além de diversos cômodos com o trabalho de madeira (boiserie) de diferentes edifícios da cidade que foram demolidos. Os jardins também são lindos, mas, como estava chovendo, não deu para visitá-los.


No outro dia, segunda, fomos visitar a exposição do Velasquez no Grand Palais. O Grand Palais é um lugar que já conhecíamos, mas esperávamos poder ver o grande teto de vidro desta vez. Infelizmente, esse teto só fica visível quando há exposição na entrada principal e não era o caso. Mas a exposição do Velasquez estava bombando. Muita fila, previsão de duas horas de espera, vento gelado, não tínhamos comprado o bilhete com antecedência, mas resolvemos esperar. O Wifi do museu estava disponível no lado de fora e os 45 minutos que esperamos, na realidade, não demoraram muito para passar. Lá dentro, clima de exposição em São Paulo, muita gente, tínhamos que pedir licença para ver as obras, mas isso também reflete a importância de se juntar tantas obras do autor na mesma exposição.


Na terça, fomos conhecer o Museu Marmottan Monet. Fomos de metrô, é bem fácil chegar. Esse museu tem uma história bacana porque ele foi formado a partir da coleção de Jules Marmottan. O museu é lindo e a coleção maravilhosa. Muitas obras de Monet, claro, mas também de Berthe Morisot (uma sala inteira e mais um pouco, com pinturas a óleo, aquarelas, desenhos) e de outros pintores impressionistas, como Caillebotte, Sisley, etc. Infelizmente, no museu as fotos são proibidas.

Antes de chegar ao museu, passamos por um jardim lindo, chamado Jardin Ranelagh.


Depois de sair do museu, resolvemos ir até o Bois de Bologne, que era bem pertinho. Seguimos pela entrada mais próxima e não parávamos de tirar fotos, pois uma paisagem era mais linda que a outra.



Acabamos almoçando por lá mesmo. No quiosque onde almoçamos havia também um casal e um homem com oito cachorros! Os cachorros mais velhos cuidavam para que os mais novos não se afastassem, muito educados.


Saímos de lá e andamos a pé pelas imediações do Trocadero, um bairro de alta classe, com lindas residências. Chegamos aos jardins do Trocadero e nos demos conta que era a primeira vez que víamos a torre daquele ângulo.



Muitas fotos depois, seguimos para pegar o RER próximo à torre para ir à Bibliothèque Nationale, onde havia uma exposição sobre Edith Piaf. Nosso maior interesse era conhecer a biblioteca, que era muito, mas muito maior do que eu imaginava, com muitas salas de estudos, todas lotadas na hora que chegamos.



Entramos na exposição e foi uma viagem musical, com o audioguia nos guiando mesmo pela vida e obra de Edith Piaf. Terminada a exposição, ainda pegamos o Café des Globes aberto por um triz e tomamos um lanche. Ao lado do Café havia uma exposição com dois globos enormes, que eu achei que eram cópias, mas eram originais, feitos no século XVIII e restaurados. Não era permitido tirar fotos, mas a exposição é impactante. Um globo representa a terra e outro representa o céu.

Na quarta fomos conhecer o Chateau de Vincennes.



Muito fácil de chegar lá de metrô também, a saída da estação é direto no Chateau. Estávamos embasbacados com o tamanho do monumento e procurando a entrada quando chegaram dois senhores americanos que também estavam procurando a entrada. Acabamos encontrando com eles diversas vezes durante a visita. Um deles era mais falante e muito divertido. Ele nos contou que eles têm milhas e viajam muito, já foram para Istambul, Austrália, Veneza, China, Coréia do Sul, Rio de Janeiro, Paris, Paris, Paris, Paris, Paris, kkkkk.


 


Visitamos tudo o que estava aberto à visitação, pois uma parte estava fechada para reformas. Basicamente foi a capela e o donjon, mas só isso já valeu muito a pena. Em uma das salas do donjon, uma moça nos chamou para experimentar o projeto de realidade aumentada, que recria toda a decoração das salas, de acordo com o que era quando o Chateau era utilizado pelo rei. É incrível, com um tablet na mão, você aponta para a lareira e ela está fumegando, aponta para o teto e ele está com toda a decoração original, as paredes revestidas de madeira, os móveis e objetos de época. Sem o tablete, é apenas uma sala de pedra, sem móveis, decorações ou objetos.


Perguntamos se havia projeto para fazer isso para todas as salas e ela nos respondeu que o custo é muito alto, porque, além de tecnologia, envolve pesquisa histórica, arqueologia, etc.

Na quinta, 30/04/2015, último dia da viagem, amanheceu chovendo. Aproveitamos a manhã para arrumar as malas, o que exigiu muito trabalho, para fazer caber tudo. Então resolvemos ir almoçar no  Baribal de novo, que fica muito perto de uma estação de metrô, a Volontaires. De lá resolvemos ir para um museu que ainda não conhecíamos e escolhemos a Pinacothèque, por causa da exposição do Klimt. Chegando lá, a fila para comprar ingressos era na chuva mesmo, mas não demorou muito. O local é pequeno, mas a exposição era muito abrangente e bem feita, infelizmente as fotos eram proibidas. As estrelas da mostra eram as pinturas Judith e Salomé e a frisa Beethoven, uma enorme série de murais feitas para um teatro.


Saímos de lá e ficamos zanzando pelas lojas da região da Opera até cansar. Terminamos a noite no apartamento mesmo, com um vinho e uma pizza da pizzaria do indiano, da qual já ficamos fregueses.

A viagem de volta foi tranquila. Houve um atraso de uma hora para sair de Paris, aparentemente por conta das condições meteorológicas. Quando chegamos a São Paulo não havia finger disponível e tivemos que esperar as escadas e os ônibus chegarem. Mais uma boa meia hora esperando, mas nada que afetasse nosso bom humor e felicidade de estar de volta.